Duzentas crianças de ambos os sexos ingressaram, no último fim -de-semana, nas fileiras da Organização de Pioneiro de Agostinho Neto (OPA), em Malanje, no quadro da campanha de fortalecimento e crescimento da agremiação na província, diz a insuspeita Angop.
No acto de ingresso, as crianças prestaram juramento e assumiram o compromisso de honra e cumprimento com zelo das obrigações que lhes são atribuídas.
A organização prevê mobilizar para as suas fileiras, até ao final do ano, mais de 800 crianças, depois de terem já ingressado 100 pioneiros em Junho último e este mês estas 200.
O papel da Organização de Pioneiro Agostinho Neto na sociedade é de incutir nas crianças a educação moral e cívica e patriótica.
Na ocasião, a chefe dos serviços provinciais do Instituto Nacional da Criança (INAC), Fátima Paulo, felicitou as crianças recém enquadradas e aconselhou os seus encarregados de educação a persuadirem os menores a dedicarem-se a agremiação por se tratar de uma formação que dota os petizes de educação patriótica e cultural, fazendo com eles se desviem dos maus actos. A OPA em Malanje está representada nos 14 municípios da província, com cerca de 24 mil pioneiros.
Tal e qual comos nos tempos da militância marxista-leninista do pós-independência (11 de Novembro de 1975), o regime angolano continua a reeducar o povo tendo em vista e militância política e patriótica. E tanto a militância política como a patriótica são sinónimos de MPLA. E a educação patriótica começa ainda dentro da barriga da mãe.
Basta ver, mas sobretudo não esquecer, que o regime mantém, entre outras, a estrutura dos chamados Pioneiros, uma organização similar à Mocidade Portuguesa dos tempos de um outro António. Não António Agostinho Neto mas António de Oliveira Salazar.
Num Estado de Direito, que Angola diz – pelo menos diz – querer ser, não faz sentido a existência de organismos, entidades ou acções que apenas visam a lavagem ao cérebro e a dependência perante quem está no poder desde 1975, o MPLA.
Dependência essa que, como todas as outras, apenas tem como objectivo o amor cego e canino ao MPLA, como se este partido fosse ainda o único, como se MPLA e pátria fossem sinónimos.
Por norma os trabalhos de lavagem cerebral dos putos e dos jovens incide sempre sobre os “princípios fundamentais e bases ideológica do MPLA”, os “discurso do Presidente José Eduardo dos Santos”, os “princípios fundamentais de organização e funcionamento da MPLA” e “o papel da juventude na conquista da independência Nacional e na preservação das vitórias do povo angolano”.
Nem no regime de Salazar se fazia um tão canino culto do regime e do presidente como o faz o MPLA, só faltando (e já esteve mais longe) dizer que existe Deus no Céu e José Eduardo dos Santos na terra.
Não nos esqueçamos, por exemplo, que o regime tem comandantes militares cuja exclusiva função é a Educação Patriótica.
Tantos anos depois da independência, 12 depois da paz, a estrutura militar e civil do regime continua a trabalhar à imagem e semelhança dos Khmer de Pol Pot.
Nos anais da história do regime, tal como na do anedotário nacional, consta uma intervenção, Setembro de 2009, em que o substituto do comandante da Região Militar Norte para Educação Patriótica do MPLA, Coronel Zeferino Sekunanguela, enaltecia, no Uíge, o contributo do primeiro presidente de Angola, António Agostinho Neto na luta de libertação nacional.
O oficial superior da tal “Educação Patriótica”, que falava na palestra sobre “Vida e obra de Doutor Agostinho Neto”, disse que Neto foi o Fundador do movimento nacionalista, da Nação angolana e contribuiu para a luta de libertação nacional.
Assim sendo, “Educação Patriótica” é sinónimo do culto das personalidades afectas ao regime do MPLA, banindo da História de Angola qualquer outra figura que não se enquadre na cartilha do partido que, cada vez mais, não só se confunde com o país como obriga o país a confundir-se consigo.
O oficial superior da tal “Educação Patriótica” reconheceu então que o primeiro presidente de Angola foi um grande estadista e político que contribuiu também para a libertação de outros povos Africanos rumo à independência dos seus países. E é nessa e em outras mentiras que os pioneiros são educados.
Só é pena que Agostinho Neto não tenha nascido há uns séculos para ser possível dizer que também contribuiu para a independência de Portugal. Mesmo assim, creio que o oficial superior da tal “Educação Patriótica” sempre pode dizer que Neto ajudou a democratizar o regime português.
Segundo o oficial superior da tal “Educação Patriótica”, graças à sabedoria de Agostinho Neto é que o povo de Angola conseguiu libertar-se da escravatura e da colonização portuguesa e de todas os crimes promovidas pelos inimigos de Angola.
O oficial superior da tal “Educação Patriótica” explicou também a contribuição de Neto como médico profundamente humano, como escritor e político de renome internacional. De facto, ao que parece, melhor do que Agostinho Neto só será, um dia destes, José Eduardo dos Santos.